Prestes a completar 10 anos de estrada, o vocalista da Bayside Kings, Milton Aguiar, trocou uma ideia com a LIT pra falar um pouco sobre o processo criativo do primeiro álbum em português da banda, sobre as influências, sobre a história da Bayside Kings e muito mais!
A Bayside Kings é atualmente formada por Milton Aguiar (Vocal), Emanuel "manolo" Filgueira (Baixo), Matheus "teteu" Santacruz (Guitarra) e David "Kid" Gonzalez (Bateria) e conta com 3 álbuns, "The Way Back home (2012)", " Waves of hope (2014)" e "Resistance (2016)", 1 EP, "Warship (2013)" e 1 Split com a banda Mais Que Paralvras,"Yin Yang (2018) em sua discografia.
Antes de qualquer coisa gostaríamos de dizer que estamos muito felizes e honrados pela oportunidade e gostaríamos de agradecer a confiança que a banda depositou em nós e também ao apoio de todos vocês!
Mas agora vamos ao que importa, esperamos que vocês gostem da entrevista!
Respondido por Milton Aguiar (Vocalista):
LIT: Como a Bayside Kings começou? Quais foram as maiores influências de vocês para solidificar um som próprio e autoral?
Milton: O BSK começou em final de julho de 2010 exatamente no fim de uma outra banda local de santos que eu tinha. No dia, eu estava organizando um show do Questions aqui na cidade e por alguma treta, a banda que eu tinha não acabou tocando e acabou ali mesmo no show.
No final do evento, um grande amigo no qual já tive uma banda, colou em mim pra ressuscitar uma velha banda que tivemos, nesse momento eu quase não aceitei, mas eu tenho um sentimento dentro de mim que é: “ruim com, pior sem” quando se trata de estar em uma banda.
Eu aceitei com uma condição, que fosse apenas uma banda de final de semana para desestressar, eu naquele momento já tinha perdido o tesão de ter uma banda e estava focado em ter uma carreira trabalhista focada em ter um salário alto e outra condição era que fosse uma banda de hardcore, porque eu estava cansado de Metalcore e screamo na época, afinal vivi muito tempo inserido nisto.
Éramos uma dupla e fomos atrás dos outros integrantes, ali mesmo naquele fim de show, eu colei no Matheus (teteu), expliquei o conceito e ele topou, lembrando que ele era totalmente inserido no punk rock melódico.
A ideia em si, era ter uma banda de hardcore e tocar com pessoas que ainda não tínhamos tocado e que fosse dentro do nosso círculo de amizades, nisto chegamos no baterista da época, o João (Jota) que estava tocando numa banda de reggae com emo core na linha do for fun e o baixista, o Manolo, veio totalmente do New Metal. Uma salada né? Mas isto foi o enceto acredito.
Sobre as influências, lembro da primeira conversa que era ter um norte, porque querendo ou não, hardcore é muito vasto, nós tínhamos duas opções que eram: “ser” um hatebreed, misturando metal e hardcore bravo ou cair na linha comeback kid da época... bom acho que pra quem escuta BSK ficou claro o caminho seguido. Com isto, temos a influência do próprio comeback kid, terror, casey Jones, evergreen terrace e stick to your guns, essa foram as nossas influências no começo e acredito que aparecemos num período bom, porque em 2010 a tendência era ainda o Metalcore e o melódico que sempre foi forte na nossa cultura.
LIT: Vocês já tiveram a oportunidade de tocar ao lado de bandas como Madball, Parkway Drive, Heaven Shall Burn, Bad Religion, entre muitas outras, como foram essas experiências? Como vocês se sentem com toda essa visibilidade recebida, principalmente se tratando de shows com grandes bandas internacionais?
Milton: O BSK sempre foi uma banda estratégica no qual a gente sempre teve objetivos palpáveis e um deles é ser uma banda de hardcore, do jeito que somos, que consegue conversar com outros gêneros e estar em conexão com outros universos e para isto precisamos durante um tempo estar junto com os grandes e aceitar a condição de banda warm-up, é um bom jeito de ter a oportunidade de mostrar o som para a galera que não conhece a banda. Porém sempre colocamos uma condição: não somos vendedores de ingressos e não pagamos para tocar (BANDAS NÃO VENDEM INGRESSO E NÃO DEVEM PAGAR PARA TOCAR, porque a partir do momento que você aceita esta regra, todo o circuito só chamará você pelo quanto você trará de dinheiro e não pela sua influência e atuação).
E nós tocamos com muitas bandas que gostamos, muitas mesmo, e com isto aprendemos no palco, como nossas influências fazem, se comportam e a experiencia de conhecer essas pessoas fora do palco, foi muito foda e isto acrescentou muito no que somos, então foi um lance que deu certo teoricamente para cumprir este objetivo nosso principalmente de 2011 à 2015.
Dentro desse objetivo, só faltam 3 bandas que gostamos muito, mas muito mesmo para completar nosso objetivo pessoal que é dividir o palco com Suicidal Tendencies, Comeback Kid e Pennywise. E estas bandas nós tivemos oportunidade e convites, mas não rolou por ferir valores em que acreditamos.
LIT: Como tem sido o processo de gravação e composição do novo álbum? Qual tem sido o maior desafio durante a produção? Quais são as expectativas para o lançamento desse álbum?
Milton: Bate uma tristeza falar disto, quarentena né, o BSK estava vindo da melhor de crescimento e amadurecimento desde 2018 e no final de 2019, nós decidimos não fazer mais shows depois do Rajada Fest e só voltar os palcos em 2020, em julho com disco novo e tour montada.
Até o pré-quarentena, nós já tínhamos diversas datas em festivais grandes, cidades e estados, e exatamente no final de semana que começou a parada, nós estávamos agendados com a gravação do disco no TOTH e decidimos optar pela segurança nossa e de nossos familiares e desde então não nos encontramos mais, porém estamos trampando outras paradas da banda que é importante e também compondo novos sons cada um na sua casa.
Nossa expectativa é que esse trabalho em português, nosso primeiro na língua nativa, é ser um divisor de águas, assim como o resistance foi em 2016, mas acreditamos pelo nosso cenário atual, que ficará para 2021 (espero estar errado).
LIT: Como tem sido a resposta do público desde que a banda anunciou a produção do seu primeiro álbum em português? Como vocês esperam que essa mudança na banda influencie o público que acompanhas vocês desde o começo?
Milton: Olha, a ideia de mudar tudo, nós tivemos em 2018, por causa do cenário político, acreditamos que a ideia e a mensagem tem que ser direta, e se estamos falando sobre a valorização e fortalecimento pessoal para ser uma pessoa ativa, cada um no seu círculo ou coletivamente, precisamos conversar mais, principalmente pela a intolerância e ódio contra minorias crescendo e nossa cultura tem que ter um posicionamento, uma ideia, abrir campo para conversa e aprendizado.
E sabendo o porquê, quando anunciamos, virou um “inferno” na minha vida, principalmente pela responsa de escrever algo que não soe bobo e nem chover no molhado. E eu não tinha influências diretas nesse estilo que fazemos, 2019 foi complicado pra criação, mas desbloqueei indo buscar influências no RAP e no MPB, não estou falando que a parada vai vir cabeçuda para pessoas letradas, mas o disco tem um universo criado e tem um conceito, vai ser animal e vai continuar na mistura do da atitude selvagem com som de peso e melodia.
LIT: A banda sempre demonstrou um posicionamento político muito claro, em algum momento durante todo esse tempo de banda, isso causou algum tipo de problema ou censura?
Milton: Em 2018, quando as coisas tiveram que ser mais nítidas, perdemos um público, não os julgo, tenho certeza que hoje, em maio de 2020, eles já devem estar arrependidos de terem escolhido o lado sujo da história, mas seguimos assim, o hardcore é assim, é uma comunidade de minoria, onde estamos aprendendo o mundo do jeito que ele é e buscando espaço e dando espaço para tentar fazer pelo menos na nossa comunidade, ele ser o mais livre possível para todos e que quando estivermos em outros círculos, continuar atuando, agindo e defendendo as mesmas coisas.
LIT: A banda faz parte do Coletivo Rajada ao lado da Bullet Bane, Black Days, Ponto Nulo no Céu e MANUAL, como surgiu a idéia pra esse coletivo? Como vocês esperam que o Coletivo e tudo que tem sido feito nele influenciem a cena local?
Milton: Cara o lance do coletivo veio de dois momentos, pelo menos, visto pelo meu ponto de vista, acredito que cada banda inserida tenha uma visão diferente onde cai no mesmo ponto.
Do nosso lado, eu tinha um desejo muito grande de criar algo que fosse uma expansão de show, que fosse algo coletivo em que todo mundo que estivesse inserido pudesse se ajudar à ponto de criamos coisas baseadas em autogestão, desde organização de shows, clips, gravadora, manager e organizar shows, é criar um lugar que fosse unido, criativo e produtivo e principalmente fosse aberto para receber novas pessoas e bandas que queiram somar.
Com este desejo, a minha ideia era fazer um mix de estilos, para não ficar tudo no mesmo segmento, com isto colei no Dan do Bullet Bane que é muito meu amigo e ele me falou que ele já estava com a mesma ideia e já tinha algo rolando com a galera do melódico.
Após conversar bastante acabou rolando, e fizemos dois festivais grandes. Tudo isto pode dar muito certo, o que eu gostaria muito é de expandir a parada para abraçar novas bandas, novas pessoas, novas formas de organização e atuação, porém como tudo que é bom tem os seus revés, no coletivo o maior revés é que as bandas inseridas são bastantes ativas e cada uma tem seu tempo, seus projetos como banda e seu tempo.
Com isto a meta é organizar tudo isto para o coletivo acontecer, mas as minhas expectativas e desejos com um coletivo é o que foi citado acima.
LIT: Como a banda enxerga a cena local atualmente? Acham que falta alguma coisa para que a cena cresça? Como vocês acham que essa cena impacta a mídia e as pessoas?
Milton: Para responder isto vamos ter que falar de dois lugares que tenho atuação direta, santos e são Paulo. Em Santos, eu fui muito atuante fazendo festivais grandes, Trazendo bandas do brasil e até de fora para fazer acontecer e rolou legal, mas de uns anos pra cá, parece que tu desapareceu, também haviam outras pessoas no mesmo tempo que eu fazendo as paradas e era um cenário bom, só que ele é cíclico e atualmente está em baixa total, em Santos existem bandas novas muito boas, porém não tem lugar acessível com qualidade mais e percebo que existe uma falta de comunicação com a galera interessada de fazer acontecer na região.
Antes de falar de SP e o BR todo, vale a ressalva, o Rock não está na grande mídia e envelheceu um pouco mal, ele não morreu, ele existe, porém a renovação tem sido menor , acredito que tenha que renovar atitude e principalmente a linguagem para conversar com a galera que ta chegando, coisa que o RAP faz muito bem.
Agora falando dentro do universo, porra, tem banda boa pra caralho, pra caralho mesmo, principalmente bandas novas, o que falta é mais incentivo pra essa galera e aprender a tirar as pessoas de dentro de casa para elas serem participativas na vida real.
Falando em hardcore punk, a principal mídia é a internet, se você entender as regras desse jogo, você consegue chegar nas pessoas e depois tem que humanizar o relacionamento para levar elas até os lugares onde a parada acontece que é nas ruas principalmente todo mundo olhar pro lado e se empurrar, porque isto não é competição, só assim o cenário cresce.
LIT: Marcas como a Brutal Kill têm apoiado diversas bandas e eventos do underground nacional, como vocês acham que marcas assim movimentam e influenciam a cena nacional?
Milton: Hoje em dia não temos mais o apoio direto, porém temos um bom relacionamento de amizade (salve Diego e brutal crew que tiver lendo isto).Eu acho muito importante ter outras coisas, produtos, mídias e comportamentos que possam somar na cultura como um todo, desde que elas realmente de apoio e seja uma troca justa, sendo isto, eu sou totalmente aberto para novas mídias somarem. Acredito na diversidade.
LIT: Como acham que a pandemia do COVID-19 pode afetar a cena musical daqui pra frente?
Milton: No meu achismo, afinal, ninguém sabe de nada neste momento (maio 2020), acho que, enquanto não houver uma cura efetiva, teremos um novo mundo com regras especificas para cada atuação. Nos shows em si, talvez os lugares terão sei lá, capacidade reduzida, procedimentos de higienização e outras coisas mais neste sentindo de poder administrar uma situação de risco.
Aqui vai um posicionamento pessoal sobre o momento agora, amigos que tenham bandas, ou fazem algo artística e querem fazer lives, se vocês não moram todos juntos, não as façam, isto se colocar em risco gratuitamente, de coração, cuidem-se, uma live mal pensada pelo hype não vale o preço da sua saúde, dos seus amigos e nem das pessoas que você ama.
No agora sejam criativos, façam como o Dead Fish ou outras bandas que fizeram vídeos individuais e os tornaram coletivos, ou coloquem shows inéditos, ou façam batem papos criativos, de forma segura, se não for seguro, não façam, é simples.
LIT: Obrigado pela entrevista, tem algo que gostariam de dizer para todos os fãs da banda?
Milton: Obrigado pelo espaço e obrigado à cada pessoa que estiver lendo isto aqui e que nos dá suporte, são 10 anos fazendo hardcore no Brasil, difícil né? Só não desistimos porque sabemos que não estamos sós, enquanto vocês acreditarem, nós acreditaremos nisto, nos vemos em breve.
Continuem consumindo as bandas e artísticas que vocês curtam, comprem merch (se tiver grana sobrando e não faça falta), ouça os sons nas plataformas de streaming e compartilhe as bandas e artísticas que você goste.
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